A semana foi encurtada pelo feriado de 4 de julho, o Dia da Independência dos Estados Unidos, afetando o volume de negócios e também – como sempre ocorre – o atraso na publicação do COT (Commitment of Traders), o relatório dos comitentes, que só será divulgado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência americana reguladora do mercado de commodities, na próxima segunda-feira.
O vencimento outubro/24, primeiro contrato de negociação, encerrou a semana na mínima de 20.08 centavos de dólar por libra-peso, uma retração de 23 pontos (cinco dólares por tonelada) em relação ao fechamento da sexta-feira anterior. Expectativa de chuvas nas regiões canavieiras foi a razão apresentada por alguns traders e analistas.
O real se valorizou 2.4% em relação ao dólar no acumulado da semana, encerrando a sexta-feira cotado a R$ 5.4600 depois de ter beliscado R$ 5.7000 na semana passada. Várias usinas aproveitaram a surpreendente cotação esticada da moeda americana e fixaram uma parcela dos seus açúcares de exportação para 25/26 e um pouco da 26/27. Embora essa estratégia fosse impensável três meses atrás, quando o dólar estava abaixo de R$ 5,0000, o fato é que a explosão da moeda americana frente ao real e as oportunidades oferecidas pelas instituições financeiras via NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) inflaram os valores em reais por tonelada a serem recebidos pelas usinas ao longo da curva de preços negociada em NY. Era o momento de fazer o hedge.
Por outro lado, dada a pressão exercida nas cotações de NY com vencimento mais longo, exatamente por causa da curva em reais, os consumidores industriais puderam também ter a oportunidade de fixar suas compras de matéria prima em centavos de dólar por libra-peso, deixando o dólar em aberto e esperando que a moeda americana siga a estimativa do boletim Focus para o 2025 e 2026 (R$ 5,1900). Era o momento de fazer o hedge.
No início deste ano, afirmamos que esperávamos que o preço do açúcar se mantivesse em torno de 21-22 centavos de dólar por libra-peso. Naquela época, o câmbio estava a R$ 4,9500, e Nova York negociava o açúcar a cerca de 24 centavos de dólar por libra-peso. No entanto, a reviravolta cambial, impulsionada não só por fatores externos, mas também pela compulsão verborrágica do presidente Lula, nos trouxe a este ponto. O suporte inicial de 21-22 centavos de dólar por libra-peso precisou ser ajustado para 18-19 centavos de dólar por libra-peso. Em resumo, grande parte da queda expressiva em Nova York ao longo do ano (da máxima de 24,62 para a mínima de 17,95 centavos de dólar por libra-peso) pode ser creditada diretamente à volatilidade do real.
Na mais recente baixa geral dos preços, em maio passado, a média simples dos fechamentos de NY para a safra 2025/2026, ou seja, dos contratos maio/25 até março/26, era de 18.25 centavos de dólar por libra-peso. Nesta sexta-feira ela encerrou 88 pontos melhor, pouco mais de 19 dólares por tonelada.
Acredito que as instituições financeiras estão com posições long na moeda americana. Digo isso porque temos observado ofertas de proteção contra a queda do câmbio, com a venda de puts (opções de venda) de dólar com preço de exercício em torno de R$ 5,4000-5,4500 para um intervalo de 60 dias, cobrando um prêmio de R$ 0,07-0,08, o que implica uma volatilidade de 13%, um preço justo. Em outras palavras, as instituições não acreditam que o real possa cair abaixo de R$ 5,3500 nos próximos 60 dias. É crucial monitorar este mercado de perto, pois no início do governo Lula, essas mesmas instituições estavam posicionadas na compra logo após as eleições, empurrando a moeda para R$ 5,4200, apenas para vê-la despencar abaixo de R$ 5,0000 três meses depois.
O Brasil tem a sétima maior reserva de dólares do planeta (US$ 356 bilhões) e achar que a moeda pode suportar cotações altas durante tanto tempo é temerário. Só uma situação completamente fora de controle que, se concretizada, poderia abrir espaço para um processo de impedimento do atual presidente. A Secretaria de Comércio Exterior (Secex), órgão do governo brasileiro vinculado ao Ministério da Economia e responsável por formular, implementar e coordenar políticas e programas relacionados ao comércio exterior, estima que um superávit da balança comercial esse ano em US$ 79.2 bilhões.
No contexto do mercado de açúcar, acredito que já atingimos os preços mais baixos em centavos de dólar por libra-peso até pelo menos a safra 2025/26. A safra 2026/27 ainda pode enfrentar pressão devido à curva de NDF. A moagem no Centro-Sul ainda pode surpreender, mas qualquer impacto baixista no preço do açúcar só ocorreria se a safra ultrapassar os 600-605 milhões de toneladas de cana. A perspectiva de consumo de etanol para o último quadrimestre do ano é positiva e certamente eleva o nível de suporte do açúcar. Parece-nos que todas as notícias negativas já estão refletidas nas cotações de Nova York, embora, como sabemos, sempre há a possibilidade de um cisne negro surgir.
Fixações de preços de vendas de açúcar em reais por tonelada que pareçam atrativas – afinal, o custo de produção do Centro-Sul nas usinas mais eficientes dificilmente chega a R$ 1.800 por tonelada FOB, tudo incluso – deveriam ser acompanhadas da compra de uma call (opção de compra) 200 ou 300 pontos acima do nível de mercado para as safras 25/26 e 26/27, respectivamente, pois essa é a nossa expectativa de preços em centavos de dólar por libra-peso para essas safras. Já os consumidores industriais que se deixarem encantar pelo mercado poderão se surpreender.
Para encerrar, a visão do nosso colaborador Marcelo Moreira: após negociar na máxima da semana a 20.78 centavos de dólar por libra-peso (e acima da média móvel dos 200 dias) o out-24 encerrou a semana a 20.08 centavos de dólar por libra-peso. Agora encontra importantes suportes a 20.09/19.17/17.92 centavos de dólar por libra-peso (piso da banda de Bollinger dos 50 dias). E um “paredão” de resistências a 20.27/20.44/20.66 centavos de dólar por libra-peso (respectivamente a média móvel dos 100 dias/topo da Banda de Bollinger dos 50 dias/média móvel dos 200 dias). Atenção para o eventual rompimento da média móvel dos 200 dias pois poderá acionar “stops” levando o mercado a buscar os 22.00/22.94 centavos de dólar por libra-peso!
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Tenham todos um bom final de semana
Arnaldo Luiz Corrêa
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